Se calhar eu já devia ter percebido que tudo iria terminar assim, os sinais estavam todos lá, mas eu fechava os olhos porque não os queria ver. Quando se trata de algo que nós gostámos imenso e à qual nos entregamos de pés e cabeça, nunca queremos perceber quando tudo se está a desmoronar. E continuamos a criar expectativas, sempre cada vez mais altas, imaginamos cenários praticamente impossíveis e então caímos num abismo profundo e batemos com o nariz numa placa na qual estava escrito "Tu devias ter previsto que isto ia acontecer!" ou ouves a voz de alguém dizer-te "Eu bem te avisei!". Depois medito sobre o assunto e penso : eu tentei que resultasse, inventei e propus soluções, haviam umas bastante óbvias e fáceis que eu recusava por orgulho. Agora eu decidi sair, terminar a minha relação com aquilo que me preenchia os finais de tarde das sexta-feiras. Posso-me ter afastado daqueles momentos musicais, mas a música em mim não irá morrer nunca. Irei prosseguir com ela e evoluir. Para a frente é que é o caminho!
Nestes últimos tempos ando com falta de imaginação, possivelmente é esta estação quente a causadora deste meu problema. Mas aqui vai algo sobre o qual eu tenho estado a pensar intensamente nestes últimos tempos.
No outro dia estava com a minha mãe a ver o nosso programa de televisão da noite, o "Extreme Makeover - Reconstrução Total", que tem como base seleccionar famílias cujas casas não têm condições de habitação suficientes ou que são bastante medíocres e em sete dias demolem a antiga e constroem uma nova. E então a família daquele episódio tinha uma história bastante forte e negra. Eles viviam diariamente com os fantasmas e não eram capazes de subir ao terceiro piso da casa pois ali estavam guardadas memórias demasiado dolorosas. Perguntam-se agora, porquê? Porque naquele terceiro andar ficava o quarto de um rapazinho de 11 anos que se suicidara por ser vitima de bullying. O quarto do rapaz permanecia tal e qual como o rapaz o deixara antes de partir e nunca mais voltar.
A percentagem de vitimas de bullying tem vindo a aumentar consideravelmente de dia para dia e com vergonha de recorrer a um mais velho ou a uma entidade que os possa ajudar, as vitimas enclausuram-se e nada dizem, afastam-se de todos e a dor acumula-se e acumula-se dentro deles, e acaba por funcionar como uma bomba que conta em decrescente até ao momento de explosão. Após tanto tempo a reprimir para si a sua dor sem nunca pedir ajuda, Carl decidiu que a única forma de acabar com aquele sofrimento era acabar com a vida e assim o fez.
Mesmo sendo estes casos divulgados pelas comunicações sociais e pelos próprios estabelecimentos educativos, as pessoas parecem não entender o valor que uma simples palavra pode ter para outra à qual esta palavra era destinada. As pessoas não sabem o quanto uma palavra dói, o quanto uma palavra magoa, o quanto uma simples palavra destrói. Pois se soubessem não as diriam, não sujariam as suas bocas com elas e não haveriam agora famílias destruídas, famílias de luto e crianças e adolescentes num sofrimento solitário. Se aquelas crianças não tivessem infernizado a vida de Carl, este não teria ceifado a própria vida, aquele terceiro andar não seria um pesadelo para aquela família e a família do Carl não continuaria em luto.
Eu não quero dar sermões, quem sou eu para o fazer, eu quero é alertar para a dimensão deste problema. Eu já fiz asneiras no passado e é por isso que existe o futuro, para que consigamos aprender com os nossos erros e não os voltar a repetir.
Agora, eu sei que este não é o tipo de texto que aqueles que lêem este blogue esperam. Mas eu acho que é importante espalhar a palavra e alertar sobre estes assuntos.