Desde que nos deixaste que tudo parece estar errado. Este não é o mundo em que eu vivia, nem aquele que idealizara. Sinto um vazio enorme, sinto uma angustia que guardo para mim, se tu soubesses como é tão doloroso sair da casa da avó e não dizer "adeus príncipe, vemos-nos amanhã", como é frustrante deitar-me à noite e ver-te cair no chão, uma e outra vez, e não conseguir mudar nada, eu sei que a culpa não foi minha, eu não podia ter evitado aquilo que aconteceu, mas tu mentiste-me, tu disseste-me que estavas bem, tu deixaste-me sair da tua beira para ir chamar a avó, eu não te conseguia levantar sozinha. Tu disseste-me que estavas bem! Eu gostava de estar zangada contigo, eu gostava de poder gritar contigo por me teres mentido, contudo tudo o que consigo fazer é chorar e tentar disfarçar a dor que me consome quando me falam de ti, quando vejo a avó a chorar, quando vejo o meu pai em baixo, quando eu vejo como toda a gente à minha volta está a sofrer com a tua morte. Eu tento sorrir, eu juro que tento levar a minha vida, mas é difícil Príncipe, eu sei que o que tu quererias era que eu fosse feliz que seguisse em frente, mas dizê-lo, é muito mais fácil do que fazê-lo. Sinto tanto a tua falta. Apetece-me tanto sentar-me no teu colo como quando eu era pequena, apetece-me tanto deitar-me no sofá com a cabeça encostada à tua barriga, apetece-me tanto ouvir-te cantarolar pela casa da avó, apetece-me tanto que te sentes à minha beira a resmungar sobre como eu tenho de subir as notas a geometria, porém o que eu queria mesmo era que nada te tivesse acontecido, que tivesses ficado connosco, que tivesses ficado comigo Príncipe. Sinto tanto a falta da tua gargalhada, sinto tanto a tua falta...e cada dia que passa a dor aumenta. Quem me dera que estivesses aqui.
Com o tempo a saudade cresce e a dor atenua-se, mas o que realmente me alenta é saber que ele está a olhar por mim, a olhar por todos nós e com certeza que com o mesmo sorriso que ele sempre tinha. Hoje fui pela primeira vez ao cemitério com os meus pais, eu tinha decidido ir, não importava se me magoava ou não, eu tinha de o ir ver. Mantive-me forte ao inicio, contudo ao ver todas aquelas flores sobre a campa, ao ver todo o carinho que as pessoas sentiam por ele, senti-me desabar interiormente.
Desde sexta feira que queria falar com ele, eu queria pedir-lhe desculpa por todas as coisas que lhe havia prometido e que o tempo não me deixara cumprir, queria dizer o quanto gosto dele e o quanto ele me faz falta. Falei na minha cabeça, sabendo que ele me podia ouvir e vou ser sincera, eu estava ali diante da sua campa, mas a verdade é que eu não o sentia lá, não era ele que estava ali, por isso falei para mim mesma, dentro da minha mente para que o seu espirito me ouvisse. O vento afagava-me as faces e quando finalmente a primeira lágrima correu, a força do vento intensificou-se, não de forma bruta, mas sim como um reconforto e eu soube que ele estava ali, ele estava ali comigo naquele momento. Fiquei com o coração apertado e a saudade cresceu.
Os mais cínicos poderão dizer que tudo não passou de algo que eu queria que acontecesse, que aquele vento reconfortante não fosse apenas vento, mas não importa o que dizem, eu senti-o, eu sei que era ele. Sei que nunca vou superar a dor, ela apenas vai amansar. Mas ele vai permanecer no meu coração sempre.
Escrevia sobre a morte e os sentimentos provocados por esta nas pessoas mais chegadas ao falecido, mas nunca pensei que fosse algo tão doloroso e lascivo, que quase nos impedisse de respirar.
Na sexta feira passada, eu descobri essa dor. Descobri a dor que tolda os sentidos e nos impede de sermos racionais nem que seja por momentos. Aquilo que seria simplesmente um almoço na casa dos meus avós paternos, acabou por ser o dia mais negro da minha vida.
Ele tinha-me dito que estava bem, e numa questão de segundos a vida escapou-se-lhe pelos dedos e eu perdi o meu príncipe. E tinha-lhe prometido tanta coisa, e tanta coisa ficou por fazer. Sinto tanto a falta dele, que parece que me rasgam o peito sempre que respiro. Amava-o tanto. Amo-o tanto ainda. E nunca o vou deixar de amar. Era o melhor avô que qualquer neto gostava de ter